Janeiro de 2013, cidade de Bauru, interior de São Paulo. Já fazia três anos que eu tinha voltado da Bahia, com a ajuda da família pra um tratamento de recuperação para o alcoolismo e a dependência química.
E apesar de ter esse tempo todo limpo, gravar uma entrevista em um bar, não era uma coisa confortável, ainda mais quando a matéria é para um programa chamado Deus e as Religiões, e o entrevistado é um Padre. Mas, o local foi sugerido por ele mesmo, logo, não achei que isso seria tão importante. Mas foi.
Principalmente porque eu já admirava as posições de vanguarda dele, conhecidas por todos na região, e que faziam abarrotar as igrejas onde celebrava Missas. Ele era o que eu sempre queria ter tido nos padres que me educaram até a idade adulta. Ter optado por fazer Filosofia na USP, e não o Seminário, na época parecia ser a atitude mais acertada, mas depois de 20 anos de vícios, acho que invejava um pouco o caminho de sucesso daquele padre. Ele era a versão escrita e escarrada do que eu queria ter sido na vida. Alguém com autoridade, conquistada pelo mérito da palavra, da orientação e da iluminação espiritual que faz as pessoas quererem estar sempre a seu lado.
Mas naquele dia da entrevista, com uma câmera fotográfica bem barata, pra filmar material de televisão, eu gravei o amigo Wellington Balbo fazendo a entrevista, mas acabei não aguentando, e fazendo algumas perguntas também. O programa era do Wellington, mas como diretor e editor da WEB TV, resolvi colocar meu dedo todo na entrevista.
E naquele momento, foi o dedo do diabo. O dedo da moral católica retrógrada e doente, que eu tanto abominava, e que me fez optar por deixar a Madre Igreja.
Achava tudo o que ele dizia, absolutamente certo. Filosoficamente e sociologicamente correto. Mas eu não estava preparado pra ele ainda. Meu lado católico moralista se assustou com aquelas coisas vindo de um padre, e eu logo aproveitei a chance pra alfinetar durante as perguntas. E na hora da edição, trouxe para o início do vídeo, algo que eu achava ser a prova real do absurdo todo, na minha visão moralista.
E então … boom …
Nada. Não aconteceu nada. Nem o Padre me respondeu pelo face se tinha gostado da edição, nem a entrevista teve tanta repercussão. A vida continuou como era antes, continuei trabalhando com a WEB TV que criei, fiz lindos e úteis trabalhos para gente de todo tipo na cidade, sempre de graça, na procura de encontrar um caminho para institucionalizar a TV, para que o Estado pagasse por essa linha direta com a população … e sempre com a esposa esperando por um resultado que ajudasse no sustento da casa, até que em abril … perto do nosso aniversário de casamento, que não foi abençoado pela Igreja, por ser minha segunda união … eu atendo o telefone … aí sim … boom …
A entrevista havia chegado à Europa, e o bispo da Diocese de Bauru, resolveu então pedir uma retratação pública do padre, que surpreendendo a todos, solicitou uma entrevista coletiva, e comunicou a sua saída da Igreja, em sinal de respeito à instituição, visto que achava não ter cometido nenhum pecado. Por achar que falou sim, o que seria a vontade do Cristo, o que seria a atitude do Cristo em relação àqueles assuntos relacionados à sexualidade humana. O com toda dignidade que lhe é peculiar, saiu de cabeça erguida de sua última Missa matinal, agradecendo a todos que ao acompanharam em seus 15 anos de batina.
No dia seguinte, quando foi entregar sua carta de afastamento, foi encurralado por seus ciumentos colegas de Diocese, que nunca aceitaram bem esse carisma todo, nem toda sua erudição de quem tem um doutorado em ética na Alemanha, no mesmo lugar por onde Bento XVI e Leonardo Boff também passaram.
Padre Beto experimentou todos os lados da geladeira católica, tendo seus boletins de ofertas sendo camuflados para esconder sua popularidade, sendo relocado de Paróquia e cansando de ter seus eventos boicotados. E como se não bastasse, depois da geladeira, ganhou a fogueira.
E em 2013, em Bauru, Terra de onde saíram também Marcos Pontes e Pelé, o Brasil conhece um padre que é excomungado pela igreja Católica por defender uma sexualidade sem repressões doentias, que causam até suicídios mundo afora, por reiterar que a palavra que o Cristo trouxe, foi de Amor e tolerância, e não de preconceito e perseguição.
A história foi longe, mas aqui, nada aconteceu. Nem o movimento LGBT, que é um dos mais fortes do Estado de são Paulo teve peito pra comprar a briga.
A Diocese de Bauru, que neste momento, está envolvida no processo de lobby político com mais de 20 candidatos a vereador nas eleições de 2012, por distribuírem panfletos de apoio eleitoral em 26 paróquias da região da Diocese, assinados pelo próprio bispo, sendo que três deles já foram cassados inclusive. E ainda assim, as autoridades, a mídia e o poder público da cidade, não abriram bico em nenhum momento.
Padre Beto sendo homenageado e paparicado nas premiações mais importantes do país, em entrevistas com os maiores nomes da tv brasileira, sendo homenageado e reverenciado até no congresso nacional, e em Bauru, ninguém que tem poder, parece ver o que acontece com um de seus filhos. Parace uma ostra. Um concha fechada com 350.000 habitantes.
Mesmo com uma multidão de católicos, indo às ruas para apoiar o padre, Bauru se mostra como mais uma daquelas cidades, ainda submetidas aos antigos padrões de poder e moral religiosa.
Eu não estava preparado para o Padre Beto e Bauru também não. Mas o mundo sim, e parece até, que o Papa também.
Já pedi perdão para o padre diversas vezes. Tentei ajudá-lo aqui em Bauru com minha WEB TV muitas vezes, contudo, ainda sinto ter sido dessa maneira.
Mas vai entender os desígnios de Deus.
Nossas mães quando estudaram juntas no Colégio Católico São José, talvez até tenham brincado um dia, sobre ter os filhos e vê-los fazendo alguma coisa juntos. Mas nós não. Muito menos imaginávamos que nossos destinos se cruzariam dessa forma. Agora, pensar que depois de tudo isso, ainda trabalharíamos juntos, fazendo TV … essa, só Deus mesmo pra poder prever.
Pecados Sem Limites
O documentário sobre o padre brasileiro que ainda pode ser reintegrado à Igreja por um Papa argentino.
Lançamento Nacional em Dezembro.
Pecados Sem Limites. Um filme que conta a história de quando o Amor esteve na Igreja.
Uma realização Rede TV Digital, a WEB TV, que ajuda outras nascerem.
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