Gostei do artigo de hoje do Zarcillo Barbosa, sobre a natureza do ‘homem político’, desde Platão, até os jovens da ‘Jornada de Junho’.
E foi justamente a conclusão, trazendo os menos de 2% de jovens (entre 16 e 18) voluntários que votam, mas adoram passeatas … que nos instigou a pensar ao final do texto.
Eis o termômetro do engajamento real da população brasileira na política. Enfim, ainda somos crianças políticas. Nesses últimos 2.300 anos, talvez cheguemos à conclusão, que os filósofos gregos antigos, já expressavam melhor a cidadania do que nossos jovens.
Infelizmente, a História da Humanidade não anda só para frente. Se por um lado a tecnologia sempre avança, por outro lado, nossa consciência política e conhecimento histórico, não avançam na mesma proporção entre os cidadãos do mundo.
As guerras e a corrupção só foram ganhando ares mais modernos, uma teatralidade mais sofisticada, adaptada aos novos tempos. Mas não estão nem perto de serem tocadas, muito menos extirpadas.
Concordo com Zarcillo. Ainda não estamos mudando nada com esse voto. Contudo, daqui a pouco, sairei de casa também, para votar em branco para Presidente em 2015. Confiava sim em uma possível ‘pequena’ mudança, com o reduzido grupo da Marina Silva. Mas entre PT e PSDB, hoje … eu sou anarquista.
* artigo escrito originalmente no FACEBOOK
Votar para mudar. O quê? |
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Zarcillo Barbosa – JC Net |
A eterna luta pelo poder e suas consequências preocupou os gregos na Antiguidade e inspirou o surgimento da democracia como forma de resistência ao desejo de um só: o poderoso de plantão.
No Livro II de “A República”, Platão (427-347 a.C) cria o famoso “mito do anel de Giges” para demonstrar ao seus alunos, de forma didática, os produtos perversos da “formatação” do governo de poucos.

Clístenes, considerado o pai da democracia ateniense, foi um reformador ateniense que ampliou o poder da assembleia popular
Giges era um pastor que morava na região da Lídia. Após uma tempestade, seguida de um tremor de terra, o chão se abriu e formou uma larga cratera perto de onde ele apascentava seu rebanho. Surpreso e curioso, o pastor desceu até a cratera e descobriu, entre outras coisas, um cavalo de bronze. Dentro dele jazia um gigante nu.
Ao avistar um belo anel de ouro na mão do morto, Giges dele se apossou. Horas depois girou por acaso o engaste do anel para o interior da mão e imediatamente se tornou invisível. Essa ambiguidade o permitiu fazer as coisas erradas sem que ninguém percebesse a autoria. Com uma série de artimanhas apossou-se do poder do reino após seduzir a rainha, e matar o soberano.
Platão afirma que tanto faz se colocarmos um anel desses no dedo de um homem justo e outro no dedo de um homem injusto. Ambos tenderiam para o mesmo fim, e poder-se-ia ver nisso uma grande prova de que não se é justo por escolha, mas por constrangimento, visto que não se encara a justiça como um bem individual.
Sempre que alguém se acredita poder ser injusto – sem sofrer represálias -, não se deixa de o ser. Essa tese não é exclusiva de Platão.
Trata-se de uma opinião comumente admitida que, embora seja amoral em seus fundamentos, perigosa em suas consequências, há séculos anima os debates sobre as relações da natureza da lei. As regras de Estado surgiram na tentativa de conter nossas características inatas e outras, piores ainda, adquiridas pelos maus exemplos.
“Se todos fazem, por que eu não?” Platão ensinou: “Quer conhecer o homem, dê-lhe poder”.
Há uma frase conhecida em teoria política atribuída ao inglês Lord Acton: “O poder tende a corromper, e o poder absoluto corrompe absolutamente, de modo que todos os grandes homens são quase sempre homens maus”.
De Maquiavel a Thomas Hobbes, de Rousseau a Sigmund Freud, essa problemática questão comporta uma solução simples, mas não simplista: desvendar nossa “natureza” é imperativo, até para compreendermos melhor como lidar com ela.
O filósofo do samba Bezerra da Silva acerta em cheio: “Se gritar pega ladrão, não fica um meu irmão…” A verdadeira “natureza humana” foi chamada de “ardilosa besta” porque está sempre pronta a reaparecer. E reaparece, pedindo votos
A constituição obriga a transparência de todos os atos públicos. Não vamos confundir transparência com a invisibilidade de Giges. Foi a forma encontrada para o Estado estabelecer mecanismo de contenção da ambição do bicho homem. Uma das maiores mazelas sociais – a corrupção -, impera quando o Direito cede lugar às chicanas. Os magistrados mal conseguem aplicar o Código Penal, tal o emaranhado da legislação, próprias dos países corrompidos. Com isso assegura-se aos detentores do poder a certeza da impunidade.
Aristóteles alerta que “o homem guiado pela ética é o melhor dos animais. Quando sem ela, é o pior”.

Diógenes de Sinope – Os detalhes de sua vida são conhecidos através de anedotas (chreia), especialmente as reunidas por Diógenes Laércio em sua obra – Vidas e Opiniões de Filósofos Eminentes.
Há dois mil e seiscentos anos Diógenes, o Cínico, saiu procurando o homem honesto com uma lamparina. Morreu sem encontrá-lo. Não seríamos nós os privilegiados em encontrá-lo com uma simples escolha. Há pouco, a esperança era de que surgia uma geração disposta a combater o vírus da corrupção. Tentamos entender os rolezinhos como possível fenômeno de massa. Restou incompleta a missão daqueles que saíram às ruas para exigir melhores serviços e reformas políticas, possíveis militantes politizados da nova classe C.
E você vai votar indagando-se sobre o que as urnas captariam de tudo isso. As notícias não são animadoras. Há 20 anos 2,3% do eleitorado eram constituídos por eleitores de 16 a 17 anos. Hoje, representam apenas 1,1%. Justamente a metade dos habilitados a votar há duas décadas. Esfarelou-se a ilusão de que os jovens estão sempre a caminho da contestação ou que flertam com a negação da política tradicional. Jovens gostam de passeatas. Mas estão pra cá de Marrakech.
O autor é jornalista e articulista do JC Net
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