Em uma das minhas últimas tentativas de trabalhar um projeto bacana, antes de fazer um tratamento para o alcoolismo e dependência química, eu talvez tenha tido um dos momentos mais marcantes e significativos dessa vida.
Trabalhava como professor de inglês em uma franquia da Microlins em Lauro de Freitas, Bahia, quando tive a ideia de propor ao franquiado, e patrão naquele momento (e futuro grande amigo), Adair Alves, uma parceria para uma escolinha de inglês, em um Shopping Center próximo de nós, ali em Lauro.
Tive a infra-estrutura necessária, uma pessoa para me ajudar na recepção e contatos … enfim, tive uma grande chance ali para vencer.
O patrão virara sócio, e um companheiraço. Me ajudou com várias das minhas deficiências na época.
Eu, por outro lado, havia desenvolvido um método de ensino super eficiente, revolucionário, que fazia de fato, o aluno entender, se motivar com os jogos de inteligência, e começar a falar inglês rápido mesmo.

Paul Sampaio e Andréia em 2005 – Halloween da Microlins – foto presente de Adair Alves, uma década depois.
E ainda assim, a Escola não deu certo. Fracassei uma vez mais.
Contudo, trago daquela época, diversas lições, e principalmente, o entendimento das minhas falhas naquele projeto.
E o que mais me ajudou, acredito eu, foi a capacidade que esse amigo teve, para trabalhar minha paciência e resignação … a resiliência necessária em relação àquele mundo trevoso que eu tentava sair, e não sabia como.
Lembro perfeitamente de me colocar em situações sem solução, de total desespero, e ouvir dele a frase: “- Calma, coloque uma noite no meio. Amanhã as coisas vão ficar mais fáceis de serem trabalhadas.”
Uso até hoje essa técnica. Na verdade, hoje em dia, simplesmente durmo … não tenho mais problemas maiores do que meus sonhos. Hoje já aprendi a resolvê-los no tempo acordado, e bem longe das garrafas, latas e drogas estimulantes. Hoje, meu entusiasmo já é natural … mas os dos meus irmãozinhos que estão chegando agora para tratamento, ainda não.
E ter aprendido que SÓ na serenidade existe humanidade, me torna alguém útil para eles nesse momento.
Penso que, se alguém foi um anjo na sua vida, a vida acaba te tornando também, a mão que ajudará ao outro.
Todos somos fruto do meio em que vivemos. O que pensamos, sentimos e fazemos, são reflexo desse meio.
Entre os bons de coração, tenderemos a ter um bom coração também. E entre os outros que não são assim ainda … seremos parecidos com eles inevitavelmente.
A única escolha que temos, é meio em que vamos ficar e viver. Podemos sim, escolher as pessoas que queremos por perto.
E a escolha só acaba, quando vamos para a prisão, hospital ou cemitério.
Até lá, ainda somos os Senhores do nosso Destino.

Adair e a esposa, e também, nossa colega de trabalho na Escolinha do Shopping Center – a amiga Luciana Fernandes.
E para nos mantermos longe destes lugares que tiram a nossa liberdade, precisamos muitas vezes, de alguém para ajudar. E principalmente – de fé, coragem e esperança, de que em breve, as coisas podem, e vão melhorar.
Em uma vida de tantas fases como esta, é sempre ótimo saber que a fase atual, também vai passar. Mesmo que seja boa ou até ótima … um dia, terá que dar lugar a outra fase.
E compete também a nós, e não só ao acaso, se a próxima fase será ainda melhor do que essa ou não.
E lembrando, sempre que as decisões estiverem difíceis, e as soluções distantes, troque toda e qualquer preocupação, por um boa noite de tranquilidade, suspensão de juízo, e sono profundo.
Afinal, nada nesse mundo pode ser resolvido antes de seu próprio tempo.
Paul Sampaio – 12:05 – 16/11/2014 – Bauru, 24ºC
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